Café especial pode ter robusta?

Para alguns, o café especial pode conter uma certa porcentagem de robusta. Ou ser feito apenas com ele

Café especial se faz com 100% arábica, correto? Não na visão de algumas marcas. Durante muito tempo, um dos critérios mais fortes de avaliação da qualidade do café era a composição do blend e a presença única de arábica. Porém, o setor vem se abrindo pouco a pouco para a ideia de que café especial pode ter, sim, robusta.

Ainda existe uma certa polêmica sobre o assunto. Mas de acordo com Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Abic, “é perfeitamente possível se fazer café de qualidade com canephora. Esse resultado fica mais evidente pelo sucesso do café em cápsulas. Principalmente em relação a marcas como a Nespresso, que utiliza robusta em seus blends”.

Para Herszkowicz, há anos já se produz café de qualidade com porcentagens controladas de canephora nos blends. O uso da variedade seria interessante pois acentua certas características da bebida, como o corpo e a persistência da crema do café espresso, bem como as notas amadeiradas de uma bebida. O importante, para o diretor, é utilizar uma boa técnica de blendagem, similar a de alguns cortes de vinhos para melhorar o produto final.

Café fino pode ter robusta?

Qualidade do robusta vem crescendo

O diretor da Abic explica que a qualidade do robusta vem melhorando no mundo inteiro. O Coffee Quality Institute possui mesmo uma variação do seu Q Coffee System dedicado à variedade. Para quem não o conhece, o Q Coffee System é um programa criado pela entidade para identificar e classificar cafés de qualidade.

Antes dedicado apenas ao arábica, a classificação agora conta com um novo selo, voltado apenas para o robusta. O Q Robusta é um programa relativamente novo, lançado em cooperação com a Autoridade de Desenvolvimento do Café de Uganda (UCDA, em inglês) para treinar profissionais na identificação de “Robustas Finos”.

Até 2016 a associação tinha certificado cerca de 30 Q Robusta Graders, mas eles explicam que o interesse pela variedade vem crescendo.

Para classificar um robusta como café fino, eles ajustaram os critérios de análise existentes para o arábica. Como resultado, um “Fine Robusta” precisa alcançar um mínimo de 80 pontos UCDA e ter uma quantidade máxima de defeitos. Assim como já acontece com o arábica, o programa procura criar mensuráveis padronizáveis. Para saber mais sobre o programa, é possível visitar o site https://finerobusta.coffee/.

Robusta: preconceito contra a variedade?

Segundo Herszkowicz, o preconceito contra o robusta seria sem fundamentos. Ele cita que durante a Semana Internacional do Café, em Minas Gerais, muitos visitantes se surpreenderam com a qualidade dos cafés feitos com robusta.

“A espécie mais cultivada no mundo todo sempre foi o arábica durante séculos. É inegável que ela tem nuances de sabor e aroma que são mais complexas que as do robusta”, diz o diretor da Abic. Apesar disso, ele acredita que existe uma competitividade grande na indústria entre os que trabalham com uma variedade ou outra. Uma concorrência que, segundo ele, não se justificaria, pois existe espaço para todo mundo.

Herszkowicz é enfático: um café de qualidade dependeria da qualidade do grão e do conhecimento do torrefador. A variedade utilizada não deveria ser o único critério de avaliação.

Controvérsia

Apesar da opinião de Herszkowicz ser favorável ao assunto, a Brazil Specialty Coffe Association (BSCA) explica em seu site que um café gourmet é composto inteiramente de arábica, com peneira maior que 16 e de alta qualidade. Tentamos entrar em contato com a BSCA para participar deste artigo, mas não recebemos nenhum retorno da Associação.

O Comitê Francês do Café, por exemplo, explica que o mais importante é conhecer a origem do café. Em um material dedicado aos torrefadores, eles afirmam que é importante que a origem do produto e a variedade da planta sejam sempre citadas. Segundo eles, essa informação é mais clara para o consumidor que o tradicional “100% arábica”.

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Wilame Vallantin

Wilame sempre tomou café, mas a bebida se tornou sua profissão em 2014, quando foi contratado para trabalhar na sede da Nespresso, na Suíça. Formado em Comunicação com especialização em Data Science, escreve sobre café desde 2015. Adora visitar cafeterias e tem paixão por microlotes.

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